Imagem de uma castanheira gigante em meio à floresta amazônica

Somos parte do sistema Terra, por Alice Pataxó

Somos parte do sistema Terra

05.09.2024 | por Alice Pataxó

Para onde caminha a humanidade quando se afasta da mãe floresta? Quando começamos a ignorar nosso instinto de sobrevivência, nosso modo de viver e de nos alimentar? E, mais importante, por que sacrificamos o bem-estar e as tradições por um tempo que não nos pertence?

O relógio é, e sempre será, o mesmo. Há religiões e culturas que acreditam, inclusive, que esse "tempo" já vem predestinado desde o nascimento. Então, eu te pergunto: por que corremos para esse encontro com o fim, sem apreciar algo maior que a vista — a sabedoria que adquirimos pelo caminho?

O relógio continua a girar, e nossa espécie segue consumindo de modo incessante mais do que o planeta é capaz de regenerar. Segundo o WWF-Brasil, este ano o Dia da Sobrecarga da Terra aconteceu em 1º de agosto, marcando o momento em que a humanidade esgotou todos os recursos naturais que a Terra pode regenerar dentro de 365 dias. Isso significa que, até o final de 2024, precisaríamos de 1,75 planeta para sustentar o nosso atual nível de consumo. O Brasil ficou apenas três dias atrás da marca mundial, alcançando a sobrecarga no dia 4 de agosto.

O que a gente não consome ou utiliza na indústria, o fogo consome. Este ano, o Pantanal bateu recorde de queimadas: são milhares de espécies afetadas e ameaçadas de desaparecer deste que é um bioma único no mundo — rico em sabedorias ancestrais que podem salvar o planeta! — e estamos permitindo que ele vire cinzas. Além das queimadas criminosas na Amazônia, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, agora mesmo, se encontram ardendo em chamas, causando danos irreversíveis à biomas únicos e já tão fragilizados pela ação humana e as mudanças climáticas, como a mata atlântica e o cerrado.

Floresta é sinônimo de vida, e isso inclui a nossa. A humanidade se desenvolveu tanto que chegou a pensar ser dominante e independente, mas somos frágeis demais em uma terra doente, em uma floresta que não alimenta ou cura suas próprias criaturas.

Não somos o centro de tudo, mas dependemos dessa ligação vital, e a Mahta nos lembra bem disso ao nos colocar no centro dessa conexão que não pode deixar de existir. Além da tradição de muitos povos indígenas, essa é uma ligação natural e ininterrupta, mas que precisa ser exercitada pelas sociedades: no ato de se alimentar, de preservar e de regenerar a floresta.




Sobre a autora |
Alice Pataxó é uma jovem ativista e comunicadora indígena da Aldeia Tibá, no sul da Bahia. Com apenas 20 anos, já é uma liderança influente na defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos originários. Iniciou seu ativismo aos 14 anos no movimento estudantil e ganhou visibilidade global ao participar da COP26 em Glasgow. Em 2022, indicada por Malala Yousafzai, foi reconhecida pela BBC como uma das "100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo". Siga @alice_pataxo


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